O ANDES-SN firmou uma parceria com a editora Expressão Popular para a reedição de várias publicações, que tenham relação com as pautas do Sindicato Nacional. A proposta foi apresentada no 39º Congresso do ANDES-SN, realizado em fevereiro em São Paulo. A ideia surgiu com base nas experiências de seções sindicais, que já têm projetos semelhantes.
“Achamos que seria interessante, em comemoração aos 40 anos do ANDES-SN, o sindicato reeditar livros clássicos, que tenham relação com as pautas discutidas pela entidade. Como a Expressão Popular já tem um lastro nesse campo de edição e acesso a muitos clássicos para reedição, nós optamos por fazer essa parceria com a editora”, disse Eblin Farage, secretária-geral do ANDES-SN.
A diretora do Sindicato Nacional contou que a parceria foi inspirada nas ações realizadas pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Adunirio Seção Sindical do ANDES-SN) e pelo Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (Adufc – Sindicato), que também motivaram outras seções sindicais a desenvolver novos projetos junto à editora.
No caso do ANDES-SN, já são quatro volumes publicados e há outros em processo de edição. “A proposta é publicarmos um livro por mês. A cada edição, a entidade tem uma cota de 500 livros, cuja ideia é distribuir gratuitamente para a categoria nos eventos nacionais do ANDES-SN, quando voltarem a ser presenciais”, detalhou Eblin.
Ela explicou, ainda, que os livros reeditados pela parceria entre o ANDES-SN e a Expressão Popular também entram para o catálogo da editora e para o Clube do Livro. “É uma experiência bem bacana o clube do livro, pois você paga uma cota mensal e recebe os exemplares em casa e ainda contribui para a continuidade do projeto”, acrescentou.
Confira aqui como participar do Clube do Livro da Expressão Popular
Títulos já publicados
“A revolução de Anita”, de Shirley Langer, foi o primeiro livro publicado pela parceria ANDES-SN e Expressão Popular. A obra traz um relato ficcional da campanha de alfabetização realizada em Cuba, no ano de 1961, a partir da qual mais de 700 mil pessoas aprenderam a ler e a escrever, o que tornou a ilha território livre de analfabetismo. A iniciativa serve como pano de fundo para a trajetória de Anita Fonseca, uma jovem que, impactada pela revolução, abre mão de seus privilégios e decide se tornar brigadista voluntária da campanha de alfabetização.
A autora Shirley Langer viveu durante anos em Cuba com sua família e escreveu a história inspirada por entrevistas que realizou e com base nas experiências que vivenciou enquanto moradora daquela ilha.
Na sequência, foram editadas duas obras de Florestan Fernandes. A primeira, “Universidade Brasileira: Reforma ou Revolução”, reúne nove ensaios do autor, muitos dos quais estruturados a partir das conferências realizadas no contexto mais amplo do que se convencionou chamar “reformas de base”, entre os anos de 1967 e 1968.
Inicialmente organizado para ser lançado em 1969, ano da aposentadoria compulsória do autor imposta pela ditadura civil-militar, teve sua primeira edição somente em 1975. Florestan Fernandes era professor de sociologia na Universidade de São Paulo desde 1945.
A segunda obra de Florestan Fernandes editada pela parceria entre o Sindicato Nacional e a editora foi “O desafio educacional”. Dividido em duas partes: “A crise do ensino: contrastes do crescimento sem democracia e “O professor e a transformação do concreto”, o livro reúne artigos de jornal, entrevistas para revistas e projetos de dispositivos constitucionais, escritos entre 1978 e 1989.
Traz, ainda, intervenções públicas do sociólogo sobre a futura Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que começou a ser estruturada com a Constituição de 1988, mas que só é promulgada em 1996, sobre o papel da universidade pública e da educação pública em geral, no contexto de luta dos anos de 1980.
Também já publicado, “A Teoria da Dependência – 50 anos depois”, de Claudio Katz apresenta uma profunda reflexão sobre o tema, passando pelas raízes e o contexto do surgimento da Teoria da Dependência e analisando suas diversas e distintas abordagens.
O pesquisador marxista Claudio Katz é economista e doutor em Geografia pela Universidade de Buenos Aires. Atua como docente nas Faculdades de Filosofia e Letras e de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e é pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet).
Próximos títulos
Já estão sendo preparados para publicação os seguintes títulos: “Dicionário de Economia Política Marxista – Alfredo Saad Filho e Ben Fine (org.)”; “A questão da ideologia – Leandro Konder”; “Terra Prometida: uma história da questão agrária no Brasil – Maria Yedda Linhares e Francisco Teixeira”; “Cartas sobre o Capital – K. Marx e F. Engels”; “A classe operária tem dois sexos – Elizabeth Lobo”; e “Evolução histórica do Brasil. Da colônia à crise da nova república – Theotônio dos Santos”.
Outras experiências
Desde 2019, a Adunirio – seção sindical do ANDES-SN, apoia a publicação de livros da editora Expressão Popular. No ano passado, foram editados três clássicos do pensamento social brasileiro: “Apontamentos sobre a ‘teoria do autoritarismo’, de Florestan Fernandes”, “A ditadura do grande capital, de Octavio Ianni” e “O reformismo e a contrarrevolução. Ensaios sobre o Chile, de Ruy Mauro Marini.
“Todos os títulos discutem o tema do capitalismo dependente e da autocracia burguesa no Brasil e na América Latina. As obras foram distribuídas para a base ao longo dos semestres letivos e, na festa de final de ano, foram muito bem avaliadas”, explicou Rodrigo Castelo, do Conselho de Representantes da Adunirio SSind.
Castelo, que também integra o Grupo de Trabalho de Política de Formação Sindical pela Adunirio SSind., contou que essa política foi pautada em uma reunião do GTPFS, ocorrida na sede do ANDES-SN, no final de 2019. E, após debates, foi transformada em TR do 39º Congresso do Sindicato Nacional, realizado em São Paulo. O TR foi aprovado nos grupos de discussão, na plenária e virou deliberação da Política da História do Movimento Docente.
A ação da Adunirio SSind incentivou a Adufc-Sindicato a editar, também em parceria com a Expressão Popular, o romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto. O livro foi o presente do dia dos professores, em 2019.
“A Adufc-Sindicato comprou 3 mil exemplares, mas financiamos uma tiragem maior para que o livro pudesse ficar em catálogo. A edição entrou também no clube do livro da editora”, disse Tiago Coutinho, da diretoria da Adufc-Sindicato.
Coutinho explicou que a obra literária foi escolhida para incentivar a noção intelectual de que a literatura é um bem para qualquer área de conhecimento dentro da universidade. “Especificamente nesse livro, o Isaías Caminha é alguém que é negro e luta para ter acesso ao ensino superior. Ele sofre vários obstáculos. Então, aproveitamos para debater tanto a questão do racismo estrutural como também a política de cotas e o acesso ao conhecimento. Fizemos um texto introdutório sobre Lima Barreto e um posfácio falando sobre a política de cotas na universidade”, detalhou.
Obra inédita de Marx e Engels
Neste ano, em um esforço coletivo, a Adunirio SSind., a Adufc-Sindicato, e as associações de docentes da Universidade Federal de Pelotas (Adufpel SSind.), da Federal de Ouro Preto (Adufop SSind.) e da Federal Fluminense (Aduff SSind.) firmaram uma parceria para apoiar a publicação da edição completa dos textos de Karl Marx e Friedrich Engels, na Nova Gazeta Renana, jornal da Liga dos Comunistas que foi publicado na Revolução Alemã, entre 1848 e 1849.
De acordo com Rodrigo Castelo, os textos foram traduzidos diretamente do alemão pela professora Lívia Cotrim (In memorian) e irão compor dois volumes de aproximadamente 700 páginas cada um, que serão publicados em uma caixa. Ele informou que, segundo a editora, esses manuscritos nunca foram publicados em conjunto, na sua totalidade, o que trará um caráter inédito para a versão brasileira. “Assim, pode-se dizer que será um dos maiores lançamentos de textos de Marx e Engels, na língua portuguesa, em todos os tempos”, disse.
Castelo acrescentou, ainda, que as entidades envolvidas nesse empreendimento editorial avaliam que a publicação ganhará mais força houver uma ampla participação das seções sindicais do ANDES-SN. “Em tempos de perseguição à universidade, é papel do sindicato propiciar a circulação do pensamento crítico. Em conversa com a Expressão Popular, as entidades envolvidas decidiram abrir um diálogo com seções sindicais do Sindicato Nacional, para construirmos uma parceria capaz de viabilizar o lançamento desta obra monumental de Marx e Engels, apoiando financeiramente e, sobretudo, na divulgação”, afirmou.
O lançamento dessa obra está previsto para novembro de 2020, com a realização de um seminário nacional em comemoração aos 200 anos de Engels.
Via: ANDES-SN.