O Brasil registrou ao menos 80 assassinatos de pessoas transexuais no primeiro semestre de 2021, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O levantamento aponta ainda que ocorreram nove suicídios, 33 tentativas de assassinatos e 27 violações de direitos humanos nesse mesmo período.
O relatório destaca que, já nos primeiros dias do ano, foi assassinada a mais jovem vítima de transfeminicídio do país. Uma adolescente trans de 13 anos foi morta por um adolescente de 17 anos. “E ao longo do semestre vimos repetir em forma e intensidade, a crueldade com que esses casos têm acontecido. Cabe ressaltar que diminuiu em 4 anos a idade da mais jovem desde que iniciamos esse monitoramento em 2017, caindo de 17 para 13 anos a idade em que pessoas trans passaram a ser assassinadas no país”, afirma a Antra.
De acordo com a associação, a maioria das vítimas tinha entre 13 e 35 anos de idade. Apenas 12 conseguiram ultrapassar a estimativa média de vida de uma pessoa trans, que é de 35 anos. O perfil das pessoas mortas segue o já denunciado em outras pesquisas da Antra – a maioria expressava publicamente o gênero feminino, sendo travestis e mulheres trans, e eram negras.
A Antra ressalta ainda que, em 2020, a entidade encontrou um número recorde de assassinatos de travestis e mulheres trans, com 175 casos. “O país naturalizou um processo de marginalização e precarização para a aniquilação das pessoas trans”, alerta. “O ciclo de violência que afeta travestis e mulheres trans se assemelha na medida em que a morte é o ponto final de uma série de violações anteriores”, acrescenta o boletim da Antra.
A entidade destaca que os dados apontados na pesquisa não representam a totalidade de assassinatos de travestis e demais pessoas trans, devido às diversas limitações impostas à coleta de informações, entre elas a falta de dados governamentais e subnotificação de casos.
No entanto, sinaliza que o levantamento representa uma parcela dos casos e ajuda a entender como tem se dado o combate à violência transfóbica no país e mensurar como a política nacional tem impactado diretamente na forma com que a sociedade e os aparelhos estatais se relacionam com a população trans.
“Não acreditamos que haja qualquer indicativo que nos leve a crer em uma diminuição na violência transfóbica ou explique em definitivo as constantes variações nos números de assassinatos que temos mapeado até aqui. Especialmente em um momento de organização e avanço de uma agenda anti-trans, com a apresentação de diversos projetos de lei que visam estigmatizar e criminalizar as existências trans, os retrocessos em políticas trans inclusivas, o fortalecimento de discursos anticientíficos e a disseminação de narrativas que incitam o ódio através do medo sobre a população trans, tem sido os principais impulsionadores da violência presente na rede social e consequentemente no incentivo ao assassinato de pessoas trans, direcionando alvos e perpetuando o lugar subalterno em que a população trans foi historicamente colocada”, afirma.
Ao final do relatório, a Antra traz uma série de recomendações “que devem ser incorporadas a fim de promover o enfrentamento da transfobia e de suas múltiplas formas, na busca por ambiente social onde as pessoas trans possam existir, serem protegidas e se sentirem seguras.”
Confira aqui o levantamento.
ANDES-SN na luta
O 28 de junho faz parte do calendário de lutas do ANDES-SN desde 2019. No 38º Congresso do Sindicato Nacional foi aprovado um dia nacional de combate à LGBTTIfobia nas universidades, institutos e cefets. Professores e professoras, que são parte da população LGBTTI, têm debatido políticas públicas dentro das instituições e também do próprio Sindicato Nacional através do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Questões Étnico-raciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS). Além do calendário de lutas, a entidade já publicou cartilha de combate às opressões, campanhas visuais, entre outros, além do documentário “Narrativas docentes: Memória e Resistência LGBT”.
Via: ANDES-SN.