Até o dia 3 de novembro de 1932, as mulheres não tinham direito a voto. E, mesmo então, apenas as alfabetizadas e empregadas conquistaram a possibilidade de eleger representantes. Quase um século e inúmeras conquistas depois, hoje todas têm direito a escolher as suas representantes. Porém, em 2021, embora representem mais da metade da população (52%) e do eleitorado (52,5%), as mulheres ocupam menos de 15% dos cargos políticos.
Após 23 anos da aprovação da lei de cota nas listas partidárias, que instituiu 30% de proporcionalidade eleitoral, em 2018 foram eleitas apenas 77 deputadas federais para o total de 519 vagas, o que, apesar de pouco, aumentou a presença feminina entre parlamentares federais de 11% para 15%. Já no Senado, que teve renovação de dois terços de seus assentos, foram eleitas sete senadoras. E, no ano passado, pouco mais de um terço de todas as candidaturas municipais foram femininas (33,55%).
Para uma das representantes eleitas, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL/RJ), “a representatividade de mulheres na política é vergonhosa”. Ela destaca que “a ausência de mulheres na política significa ter um Congresso Nacional e os legislativos estaduais e municipais que não refletem a realidade da formação brasileira”.
O fato da diversidade da população do país não estar representada no parlamento pode ser expresso em números. O Brasil está no 157º lugar do ranking mundial na proporção de mulheres na Câmara e no Senado, numa lista de 196 países, segundo levantamento da União Interparlamentar.
Em um país em que, além do machismo, o racismo também é estrutural, e o conservadorismo aumentou nos últimos anos, o recorte de raça é um obstáculo a mais. A mulher negra e periférica tem ainda menos espaço dentro dos partidos políticos e, por consequência, nas cadeiras das casas legislativas. Talíria destaca que “na Câmara, das 77 eleitas, apenas 13 são negras, isso numa realidade em que representamos 20% da população”.
Para a deputada federal, isso significa que as demandas das mulheres, sobretudo das mulheres negras, podem ficar desatendidas, uma vez que as casas legislativas não têm representação suficiente que dê conta das pautas dessa parcela significativa da sociedade. “É urgente que esse cenário mude. Precisamos ocupar os espaços de poder, dar voz a um setor da população que historicamente é silenciado e tem seus direitos arrancados por parlamentares, em sua ampla maioria homens brancos e da elite”, defende.
A falta de representatividade não é só no legislativo. A partir desse ano, apenas 658 municípios são comandados por mulheres. Isso representa apenas 11,8% dos cargos que estiveram em disputa nas eleições municipais de 2020 nos 5.570 municípios do país.
Talíria reforça que é necessário intensificar a luta por maior participação das mulheres nos espaços de decisão política. “Não é mais possível naturalizar a nossa ausência na política. É preciso disputar, entendendo que também não basta ser mulher, mas é preciso estar conectada com a luta por direitos”, afirma.
Leia a continuação da matéria no InformANDES de Março/2021: em PDF ou no ISSUU
*Foto da capa do site: Elizângela Leite / Aduff SSind.
Via: ANDES-SN.