A Diretoria da Associação de Docentes da Universidade Estadual de Santa Cruz (ADUSC) vem a público repudiar a ação da Secretaria de Saúde de Ilhéus frente ao descaso no tratamento dos pacientes com Covid-19 no município.
Assim como o presidente Jair Bolsonaro, denunciado mais uma vez na Corte Internacional de Haia por ignorar orientações técnicas no combate ao coronavírus, a Secretaria de Saúde de Ilhéus e a Prefeitura vêm adotando uma necropolítica na cidade. Entende-se o termo necropolítica a partir do conceito desenvolvido pelo filósofo e professor universitário camaronês Achille Mbembe, que o atribui ao Estado que escolhe quem deve viver e quem deve morrer.
Primeiro, podemos citar as amplas críticas feitas pela Secretaria de Saúde à UESC, quando a mesma em uso de sua autonomia decidiu pela suspensão das aulas em março, no início da pandemia. Posteriormente, foram múltiplas as recomendações feitas pelo Comitê de Crise da UESC, do qual a ADUSC faz parte, e pelo Consórcio do Nordeste sobre a reabertura do Comércio em Ilhéus, durante a ascensão exponencial de casos de Covid-19 na cidade, que até mereceu uma ação do Ministério Público para frear um desastre maior. Recomendações que foram ignoradas na maioria das vezes. Além disso, a estratégia de morte adotada pela Secretaria é visível na mudança da apresentação dos dados nos Boletins Diários sobre os casos da doença em Ilhéus, a inconsistência dos dados locais com os da Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB) e o forte indício de subnotificação por falta de testes.
Diante dessas observações, é absurdo pensar que a subnotificação é provocada intencionalmente pela Secretaria? Um caso ocorrido neste domingo (26), com uma professora da UESC, pode exemplificar a postura da prefeitura. Quatro familiares da docente foram ao Centro Covid de Ilhéus, em busca da realização de testes swab. Ela fica em casa com outros quatro membros já confirmados como positivos. Na sede, a Secretaria de Saúde se recusa a fazer os testes em pessoas que não estão com insuficiência respiratória grave. Após uma forte pressão da professora, o médico enfim emite a solicitação para realizar os testes. Porém, na recepção do Centro Covid, um dos exames swab é substituído pelo teste rápido, que tem uma grande possibilidade de falso negativo. Submetido a este teste rápido, um familiar da professora com sintomas e que mora com quatro positivados e mais outras três pessoas com sintomas, recebe o resultado negativo.
Esse caso nos faz refletir sobre a conduta da Secretaria no atendimento aos pacientes que chegam ao Centro Covid. A negação ao exame até o último momento pode ser interpretado como um modus operandi do setor. Por qual objetivo? É para diminuir o número de casos positivos na região e assim permitir a flexibilização de medidas como reabertura de comércio, liberação do acesso às praias e da circulação de ônibus? Quantos mais outros pacientes e cidadãos ilheenses sofreram o mesmo descaso por parte da Secretaria? Até a publicação dessa nota, a prefeitura não deu nenhuma satisfação sobre o caso.
Por fim, reafirmamos nosso posicionamento pelo retorno ao distanciamento social até que se configure um cenário mais seguro para a população. Vidas acima do lucro!
Ilhéus-BA, 27 de julho de 2020.
Diretoria da ADUSC