Chegamos a mais um dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra que marca a morte de Zumbi, guerreiro e líder do Quilombo dos Palmares, e que simboliza as lutas contra o racismo e a exploração.
O reconhecimento desta data é fruto de anos de luta do Movimento Negro, por entender que a comemoração de 13 de Maio, Dia da Abolição, não representa os ideais de liberdade e a luta contra o racismo ao colocar a princesa Izabel como redentora do povo negro.
A abolição da escravidão negra só se deu com o sangue e as lutas de nossos ancestrais quilombolas. Além disso, tanto tempo depois, ainda lutamos por uma verdadeira abolição, pois o povo negro continua sofrendo com o racismo, as desigualdades sociais e a violência, causados por uma abolição sem reparações.
Após mais de 300 anos de escravidão, simplesmente abriram as senzalas. Mas sem moradia, sem emprego, sem direitos sociais, negros e negras foram obrigados a sobreviver às margens, nas periferias e favelas das cidades, sem acesso à saúde, educação, saneamento básico e condições mínimas de vida.
Por isso, 325 anos depois da morte de Zumbi, a luta quilombola segue sendo o símbolo da resistência negra. Lutamos para que o 20 de novembro seja feriado nacional em todo o país e faremos dessa data mais um dia de denúncia e luta contra o racismo e o capitalismo.
Parem de nos matar! Vidas Negras importam!
Aos negros sempre foram negados seus direitos, numa realidade marcada pela perseguição e violência de seus corpos. Historicamente, a população negra vem sendo utilizada para os propósitos dos ricos e poderosos no mundo, sendo a maior parte de desempregados num enorme exército de reserva.
Os poucos avanços obtidos não ocorreram porque os governos foram generosos, mas em razão de muitas lutas. E, ainda assim, este sistema, que sobrevive da opressão e da exploração dos trabalhadores, ameaça e retira cada vez mais nossos direitos conquistados.
Essa situação se agravou ainda mais com a eleição de Bolsonaro, um governo de ultradireita que propaga um discurso e toma medidas racistas, machistas, lgbtfóbicas, xenófobas e anti-democráticas, e que não tem poupado esforços em seus ataques e retiradas de direitos da classe trabalhadora, que recaem com muito mais perversidade sobre negros e os mais pobres.
Em meio à maior pandemia desde o século passado, foi escancarada a enorme desigualdade social e racial existente no capitalismo. No Brasil, podemos chegar ainda este ano a 200 mil mortes pela Covid-19 e a maioria das vítimas tem sido a população negra e pobre. Como se não bastasse, essa situação, combinada com a crise estrutural do capitalismo, vem agravando a fome e o desemprego que também se abatem com mais força sobre negros e negras.
A política de “segurança pública” e de “guerra às drogas” dos governos aprofundam o genocídio e o encarceramento em massa da juventude negra. Segundo pesquisas, os negros foram quase 75% das vítimas de homicídio no Brasil em 2019. De cada 10 mortos pela polícia no país, 8 são negros. As mulheres negras são as maiores vítimas do feminicídio, estupros e da violência doméstica.
O racismo estrutural e seus capitães do mato
A serviço do projeto racista da ultradireita, Bolsonaro tem aliados figuras como Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, e Fernando Holiday, vereador de SP, que apesar de serem negros, agem como os antigos “capitães do mato”, atacando o povo negro, nossa cultura e história.
À frente da Fundação Palmares, instituição importante para o resgate e preservação da história do povo negro, Sérgio Camargo atua deliberadamente contra a luta antirracista e calunia símbolos da luta contra a escravidão e o racismo, como Zumbi e o quilombo dos Palmares.
Uma recente portaria assinada por ele mudou as regras para a seleção e publicação de nomes e biografias das personalidades negras notáveis no site da entidade. Uma das alterações é que a lista passará a fazer apenas homenagens póstumas, ou seja, vai conter somente nomes de personalidades já mortas, com o objetivo de excluir da galeria nomes como dos cantores Elza Soares, Gilberto Gil, Martinho da Vila, entre outros.
Já Holiday ataca constantemente a política de cotas, política afirmativa que é uma reivindicação histórica de reparação a negros e negras.
20 de Novembro em honra de Zumbi e Dandara!
As lutas antirracistas tomaram o mundo no último período numa rebelião contra a opressão e a exploração imposta pelo capitalismo. Este é o sentido dos protestos dos nossos irmãos e irmãs negros nos Estados Unidos, que não só denunciam, mas foram às ruas e se rebelaram contra a polícia e o Estado racistas. Lutas que se espalharam em vários países, inclusive aqui no Brasil.
Não há humanização no capitalismo, onde as opressões, como o racismo, são utilizadas para aumentar a exploração da nossa classe. Como dizia Malcom X, não há capitalismo sem racismo. Por isso, nossa luta é contra a discriminação racial, mas também contra este sistema.
Neste 20 de Novembro , nós, negros, negras e brancos da classe trabalhadora vamos ecoar as nossas reivindicações e exigências de reparações históricas e pelo fim do capitalismo. É hora de aquilombar as lutas em defesa da vida e por direitos, contra a pandemia e o racismo.
– Fora Bolsonaro e Mourão! Fora Sérgio Camargo da Fundação Palmares!
– Reparações históricas já e políticas afirmativas contra o racismo!
– Por empregos, direitos e renda, já! Abaixo as reformas Trabalhista e da Previdência! Fim das terceirizações!
– Em defesa da vida, quarentena geral com garantia de renda para todos!
– Fim do genocídio negro, da violência policial e do encarceramento em massa de negros!
– Basta de feminicídio e violência machista e lgbtfófica! Não à cultura do estupro!
– Investimentos no SUS! Não à privatização! Testagem e vacinação em massa contra a Covid-19!
– Não à reforma administrativa que pretende sucatear e privatizar os serviços públicos e reduzir direitos dos servidores!
– Não à reabertura das escolas em meio à pandemia!
– Pela titulação das terras quilombolas e demarcação dos territórios indígenas!
– Pela instituição de 20 de novembro como feriado nacional em todo o país!
Por Quilombo Raça e Classe do Rio de Janeiro
Via: CSP-Conlutas.