Na véspera do Dia da Consciência Negra, na noite desta quinta-feira (19), seguranças de uma loja do Carrefour em Porto Alegre (RS) espancaram e levaram à morte o homem negro João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos. As imagens da brutalidade se espalharam pelas redes sociais ainda ontem mostrando mais um crime bárbaro e racista.
O crime ocorreu na loja do Carrefour localizada no bairro Passo d´Areia, na zona norte da capital gaúcha. Vídeos mostram o espancamento em frente à loja, no estacionamento, e outras cenas como a tentativa de socorristas salvarem Freitas.
Segundo informações preliminares, teria havido uma discussão dentro do supermercado com uma funcionária e Freitas foi retirado da loja por um segurança de uma empresa terceirizada e um PM temporário. Os dois homens, identificados como Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram presos em flagrante por homicídio qualificado.
Parem de nos matar! Basta de racismo!
No histórico da famosa rede de supermercados, há o caso ocorrido este ano de um promotor de vendas, que morreu dentro do supermercado e foi escondido sob um guarda sol para não ser preciso fechar a loja e de um cachorro morto a pauladas também por um segurança.
Mas a morte de Freitas nesta quinta-feira não é exclusividade do Carrefour. Infelizmente, outros casos tão bárbaros quanto também já ocorreram. Para citar dois mais recentes, em fevereiro do ano passado, Pedro Henrique de Oliveira Gonzaga, de 19 anos, foi morto por um segurança do supermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O segurança deu uma “gravata” no jovem e jogou seu peso sobre ele, que morreu sufocado.
Também no ano passado, em julho, um jovem negro de 17 anos, catador de materiais recicláveis foi despido, amordaçado e chicoteado por dois seguranças após tentar furtar chocolates de uma loja do supermercado Ricoy, na periferia de São Paulo.
Racismo estrutural
O assassinato de Freitas na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra não poderia ser mais revoltante e revela o racismo estrutural existente no capitalismo e marcante em nosso país. Após 300 anos de escravidão, a abolição foi feita sem reparações ao povo negro, que foi simplesmente empurrado para as periferias e favelas.
Negros são 8 de cada 10 mortos pela polícia. O número de negros nas prisões aumentou 14%, enquanto a de brancos caiu 19%. As mulheres negras são as maiores vítimas da violência. Neste ano marcado pela pandemia e pela crise econômica também são os negros as principais vítimas da Covid-19 e do desemprego.
Segundo a integrante da CSP-Conlutas no Rio Grande do Sul, Rejane Oliveira, este crime não é um fato isolado. “O Carrefour tem um histórico de racismo e violência. Temos um presidente da República que estimula a violência e tem como símbolo de seu mandato o apontar de uma arma para os brasileiros”, afirmou a dirigente em vídeo.
“Realizaremos um ato hoje, às 18h, em frente ao Carrefour no Passo d´Areia. Vamos protestar contra o racismo e a violência que negros e negras sofrem em nosso país. Tirem os joelhos do nosso pescoço, tirem as armas do nosso rosto. Chega de impunidade”, convoca a dirigente em vídeo.
“Dizemos basta. Vidas negras importam. Não vamos nos calar. Neste dia 20 exigimos a punição aos assassinos que mataram Freitas e ao Carrefour, bem como vamos denunciar este sistema racista e excludente. Basta de opressão e exploração capitalista”, reforça o integrante do Quilombo Raça e Classe do Rio de Janeiro, Júlio Condaque.
Via: CSP-Conlutas.