Aumento da contaminação pela Covid-19 entre alunos e professores. Falta de funcionários de limpeza. Insegurança sanitária com salas mal arejadas e álcool em gel vencido. Essa é a realidade em várias escolas que retornaram as atividades e aulas presenciais nos últimos meses.
Em SP, desde que as atividades presenciais foram retomadas nas escolas estaduais, municipais e privadas do estado já foram contabilizados oficialmente 741 casos de Covid-19 e mais de 1.100 casos suspeitos. Os números foram informados pelo próprio governo de João Doria, na última segunda-feira (16) e incluem dados notificados entre 2 de janeiro e 13 de fevereiro. Entidades de professores denunciam que os números estão subnotificados e há pressão de direções para esconder casos.
O aumento de casos de Covid-19 em crianças também começou a ser verificado. Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo, três hospitais infantis da capital paulista, Cândido Fontoura, Darcy Vargas e Menino Jesus, registraram aumento significativo de internações de crianças com covid-19, logo em seguida à volta às aulas na rede particular de São Paulo.
Na comparação entre os dias 2 e 9 de fevereiro, o Darcy Vargas teve aumento de 4 para 8 internações de crianças com covid-19. No Cândido Fontoura, o aumento foi de 7 para 12 internações. E no Menino Jesus, de 7 para 9. Ainda que seja baixo em comparação com o número de internações de adultos, é o maior número para crianças desde dezembro.
Em Santos (SP), duas escolas municipais suspenderam as aulas por conta de casos de Covid-19 nesta semana.
Outros estados
Diante da explosão de casos, o governo do Ceará suspendeu a partir de ontem (18) as aulas presenciais no estado nas escolas públicas e privadas e universidades. No período de 18 de janeiro a 17 de fevereiro, o número de pacientes internados em leitos de UTI com Covid-19 passou de 226 para 652, enquanto que os pacientes em enfermarias saltou de 581 para 1.026.
Em outros estados onde os governos insistem em determinar a volta de aulas presencias, também há mobilizações para barrar esta medida. No Rio de Janeiro, professores das redes estadual e municipal seguem mobilizados. Professores da rede municipal de Itaguaí decretaram greve a partir de 22 de fevereiro.
No Recife, o Simpere (Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife) deu início a uma forte campanha contra o retorno presencial às escolas. Em Campina Grande (PB), os professores da rede municipal também aprovaram greve sanitária.
“Em Santa Catarina, onde já há várias cidades sem leitos de UTI e a pandemia se agrava, o governo determinou o retorno escolar presencial esta semana, permitindo até 100% da ocupação nas salas de aula. Um verdadeiro crime”, criticou a professora aposentada e dirigente da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas Joaninha Oliveira.
“O maior exemplo da gravidade em forçar o retorno às escolas em meio à pandemia, sem vacinação da população, é Manaus (AM). Após 20 dias de reabertura das escolas, em setembro de 2020, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas registrou 342 professores infectados. Só na UFAM, 33 professores morreram”, denunciou.
Greve em defesa da vida
A professora da rede estadual de SP e integrante da SEN da CSP-Conlutas Flávia Bischain ressalta que a categoria segue em defesa da Greve Sanitária. O objetivo é explicar às mães e pais de alunos e para toda a comunidade escolar que a volta às aulas presenciais no momento de agravamento da pandemia é uma política genocida.
Em SP, quatro em cada dez alunos (40%) não compareceram às aulas no dia estabelecido pelo rodízio das escolas. O governo apostava que 70% dos alunos iriam.
“A greve pela vida é uma necessidade. As vidas de nossos jovens, das suas famílias, dos profissionais das escolas, não são descartáveis. Para voltar às atividades presenciais, o governo tem de garantir uma campanha de vacinação em massa. É preciso ainda garantir renda para os trabalhadores não precisarem circular e se expor ao vírus e garantir condições para o ensino remoto e apoio psicológico aos estudantes”, defendeu.
A dirigente cobra ainda que a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) atue para unificar nacionalmente a luta da Educação contra o retorno presencial.
“É um grave equívoco a decisão da CNTE de defender os protocolos de retorno. Isso só divide nossa luta. O chamado ensino híbrido, que combina aulas presenciais e remotas não resolve os problemas, pois a comunidade escolar segue exposta ao risco de contaminação. Também não resolve os problemas pedagógicos e ainda significa sobretrabalho aos professores e rebaixamento salarial”, afirmou.
“As previsões é de que a pandemia ainda piore nas próximas semanas. É urgente lutar pelas condições e estrutura para melhoria do ensino remoto e para que o retorno às aulas presenciais só aconteça mediante a vacinação em massa da população e a pandemia sob controle”, concluiu.
Reunião do Setorial de Educação da CSP-Conlutas
O Setorial de Educação da Central reúne-se virtualmente no próximo dia 23, às 17 horas. A situação no setor, a pandemia e a greve pela vida, entre outros assuntos, estarão em debate.
A reunião acontece previamente à reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas marcada para os dias 5 e 6 de março.
Via CSP-Conlutas.