Desde sexta-feira (5), assim como fez a ditadura militar na década de 70, o general Eduardo Pazzuelo, que comanda interinamente o Ministério da Saúde, decidiu que não seriam mais informados os números acumulados sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil. A pasta começou a informar apenas os dados referentes às últimas 24 horas e dificultar o envio de informações à imprensa, com o claro objetivo de esconder a gravidade da pandemia, que hoje já infectou mais de 700 mil brasileiros e matou mais de 37 mil pessoas no país.
Após a medida sofrer uma enxurrada de críticas por parte de entidades médicas, especialistas e gestores de saúde dentro e fora do Brasil, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou, nesta segunda-feira (8), que o Ministério da Saúde terá de retomar a divulgação completa dos dados sobre o coronavírus.
Contra a censura, os veículos G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL também decidiram formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para coletar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal. De acordo com o balanço desta terça, até às 8h, o Brasil tinha 711.696 casos confirmados e 37.359 mortes por coronavírus.
Prática de ditaduras
O presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, disse nesta terça-feira (9) em entrevista à GloboNews que a mudança na forma de divulgação de casos confirmados e mortes por coronavírus no Brasil é “leviana” e “chega à beira do criminoso”. Para Beltrame, “a ocultação de cadáveres não serve neste momento”.
Beltrame voltou a criticar a fala do empresário Carlos Wizard, que chegou a ser cotado para ser Ministro da Saúde após a saída de Nelson Teich, em maio, e vinha atuando como “conselheiro” do ministro interino Eduardo Pazuello. Na sexta (5), Wizard acusou os estados de inflarem os números de Covid-19 para terem mais recursos do governo federal.
A declaração gerou indignação por desrespeitar o luto de milhares de familiares que já perderam parentes por Covid-19, um dado que não dá para esconder da realidade, bem como o trabalho de milhares de trabalhadores da Saúde que vem colocando suas vidas em risco para combater a pandemia.
A Sociedade Brasileira de Infectologia também publicou uma nota repudiando a falta de transparência do Ministério. Segundo a entidade, “somente com dados confiáveis é possível tomar as providências necessárias e traçar a estratégia para combater a pandemia”.
O fato é que a decisão do governo Bolsonaro e seu ministro general coloca o Brasil ao lado de países autoritários como Coreia do Norte, que simplesmente não informa estatísticas da pandemia, e Venezuela, que também divulga informações subnotificadas e falsas, segundo organizações internacionais.
A medida também repete uma prática da ditadura militar brasileira que, na década de 70, diante de uma epidemia de meningite no país, negou o fato, mentindo à população, por muito tempo. Médicos e sanitaristas não podiam dar entrevistas. Só a partir de 1974, quando a doença explodiu em áreas centrais de São Paulo, e não havia mais como negar a situação, com hospitais em colapso, os generais começaram a reconhecer o problema.
“Não bastasse a política genocida adotada desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, que atua contra as medidas de proteção e prevenção da doença, o governo se superou ao decidir esconder os dados sobre a situação no país. Bolsonaro impõe essa sabotagem dos números com o objetivo também de forçar a abertura total da economia em prol dos lucros dos bancos e grandes empresas”, critica a servidora estadual da Saúde em Natal (RN) e dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Rosália Fernandes.
“É um projeto genocida. A decisão irá piorar ainda mais a grave crise sanitária e social que penaliza milhões de brasileiros. Dados oficiais revelam que o governo está cortando e retendo verbas para combate à Covid-19, enquanto libera dinheiro público para bancos e grandes empresas. Medidas como essa tomada por um general no Ministério da Saúde comprova que Bolsonaro quer impor um projeto de ditadura, com censura e ataques às liberdades democráticas, para avançar nos ataques aos trabalhadores e mais pobres”, denuncia Rosália.
“Precisamos fortalecer e intensificar a luta para derrotar este governo genocida e por para fora Bolsonaro e Mourão, já”, conclui Rosália.
Via: CSP-Conlutas.