Um estudo desenvolvido pelo professor Mirco Solé, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), encontrou uma nova espécie das pererecas-de-bromélia. Batizada como Phyllodytes magnus, o pequeno anfíbio nasce, cresce, reproduz e morre em meio às bromélias, no alto das árvores da Mata Atlântica:
“Em 2007, junto com meus primeiros alunos de iniciação científica, escutamos um canto de anfíbio vindo de bromélias no dossel da floresta que não conseguíamos atribuir a nenhuma espécie já conhecida. Num esforço colaborativo entre pesquisadores da USP, UESC e UESB, finalmente conseguimos coletar alguns exemplares, já em 2014 e 2015. Comparamos a espécie com as demais usando evidências genéticas, morfológicas, o canto de anúncio e o girino. Apenas após termos juntado suficientes evidências decidimos descrever ela como uma espécie nova para a ciência”, conta o professor.
A Phyllodytes magnus se junta a outras 14 espécies diferentes das pererecas-de-bromélias. Pelo menos uma dessas, a Phyllodytes luteolus, tem como uma das fontes de alimento larvas de mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya:
“No meio natural existem diversas espécies que ajudam a que outras não se tornem praga. É o que fazem as pererecas-de-bromélia ao se alimentar de larvas de mosquito. Elas conseguem eliminar os mosquitos completamente? Não. Mas elas conseguem manter o número de mosquitos em níveis mais baixos”, afirma.
O pesquisador Mirco Solé ressalta que a preservação ambiental é fundamental para que esse tipo de controle biológico tenha efeito:
“A pandemia de Covid-19 que assola o Brasil e o mundo é mais um alerta em relação ao que estamos fazendo com o planeta: quanto mais degradamos o meio ambiente, mais prováveis se tornam novos surtos de doenças zoonóticas (que passam de animas para o ser humano). Em áreas mais urbanas do nordeste do Brasil, como Ilhéus, é comum encontrar bromélias enfeitando jardins e ruas. Se nessas plantas houver pererecas-de-bromélia, elas estarão biocontrolando a população de mosquitos. Se não houver, nada impedirá os mosquitos de proliferar e seguirem como um grande problema de saúde pública”.
A descoberta da nova perereca-de-bromélia faz parte do projeto “Diversidade e estrutura genética dos anfíbios do Corredor Central da Mata Atlântica do Sul da Bahia”. O estudo conta com apoio da Fundação Grupo Boticário, do programa PROTAX do CNPq com contrapartida da FAPESB, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPP) e da Reitoria da UESC.
O projeto contou com diversos estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado do “Tropical Herpetology Lab” da UESC, laboratório coordenado pelo Prof. Dr. Mirco Solé e pelo Prof. Dr. Victor Goyannes Dill Orrico:
“Em relação às pererecas-de-bromélia, os principais pesquisadores envolvidos nas descobertas foram os Doutores Iuri Ribeiro Dias (que atua no PPG em Zoologia), Caio Vinícius de Mira Mendes (que atua no PPG SAT), Amanda Santiago Ferreira Lantyer Silva e Euvaldo Marciano Jr (ambos hoje na UNIVASF) e o discente de doutorado em Zoologia Gabriel Novaes e Fagundes, além de colaboradores de outras instituições como a Dra. Juliana Zina da UESB, o Dr. Miguel Trefaut Rodrigues da USP e a Dra. Judit Vörös do Museu de História Natural Húngaro”, finaliza Solé.